Por Jefferson Procópio – A resposta que os políticos mais precisam


O Brasil atravessa um momento político marcado por uma crise legislativa que não nasceu do acaso, mas de um acúmulo de escolhas equivocadas, prioridades distorcidas e uma desconexão crescente entre representantes e representados. O Congresso, que deveria ser o espaço do debate coletivo e da construção de soluções para os problemas reais da população, tem se transformado, com frequência, em um palco de disputas pessoais, ideológicas e eleitorais, onde o interesse público acaba empurrado para o rodapé da agenda. 

Essa crise se evidencia quando pautas estruturantes — como saúde, educação, combate à fome, segurança pública e redução das desigualdades — são constantemente adiadas ou tratadas de forma superficial, enquanto projetos de interesse individual, corporativo ou de autoproteção política avançam com rapidez. Muitos parlamentares parecem mais preocupados em fortalecer suas próprias bases de poder, ampliar influência nas redes sociais ou garantir vantagens para seus grupos do que em cumprir o papel para o qual foram eleitos. O mandato, que deveria ser um instrumento de serviço público, passa a ser usado como ferramenta de autopromoção. 

Parte desse problema está ligada a um sistema político que estimula a personalização da política. Deputados se tornam “marcas”, defendendo bandeiras que geram engajamento e polarização, mas pouco resultado prático. A lógica do conflito permanente rende votos, curtidas e visibilidade, mas empobrece o debate e paralisa o Legislativo. Enquanto isso, a sociedade paga o preço da inércia, da falta de consensos mínimos e da incapacidade de enfrentar problemas urgentes. 

Diante desse cenário, a resposta da população não pode ser o silêncio nem o desencanto absoluto. Protestos continuam sendo uma ferramenta legítima e necessária para pressionar, denunciar e lembrar aos políticos que o poder emana do povo. Quando organizados e conscientes, eles funcionam como um termômetro social, expondo insatisfações que muitas vezes são ignoradas nos gabinetes climatizados de Brasília. 

Os boicotes também surgem como forma de resistência democrática. Boicotar políticos que não prestam contas, que votam contra os interesses coletivos ou que transformam o mandato em benefício próprio é uma maneira direta de retirar capital político de quem não honra a confiança recebida. Isso inclui não compartilhar conteúdos oportunistas, não normalizar discursos vazios e não reforçar figuras que vivem da polêmica, mas entregam pouco à sociedade. 

No entanto, a resposta mais poderosa está na educação do eleitor. Investir em informação, senso crítico e consciência política é o caminho mais sólido para transformar o cenário atual. Conhecer o histórico dos candidatos, acompanhar votações, entender como funciona o Legislativo e discutir política para além das paixões é um ato revolucionário em um país onde a desinformação ainda molda escolhas. As próximas eleições representam mais do que uma troca de nomes: são uma oportunidade de redefinir prioridades e cobrar compromisso real com o bem comum. 

O Brasil não sofre apenas com uma crise legislativa, mas com uma crise de responsabilidade política. Superá-la exige participação ativa, vigilância constante e maturidade democrática. Quando o eleitor deixa de ser apenas espectador e assume o papel de fiscal e agente de mudança, a política deixa de ser um jogo de interesses pessoais e volta a ser, como deveria, um instrumento de transformação social.


* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Página PB.

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